sábado, 2 de agosto de 2014

Eu não viveria aqui’, diz soldado israelense que patrulha cidade próxima à fronteira com Gaza

 
  (Foto: Tsafrir Abayov / Tsafrir Abayov/AP )


Esta é uma daquelas pequenas e sonolentas cidades rurais sionistas, cheia de judeus que confessam folhear catálogos de sementes tanto quanto a Torá. Eles vivem entre 1,5 e três quilômetros da fronteira com Gaza. E brincam que gostam da vida tranquila.

Há brinquedos de crianças espalhados pelos quintais de areia. Triciclos, trampolins, balanços castigados. Mas nenhuma criança. As crianças se foram. A região agora é patrulhada por soldados israelenses. E os soldados estão ficando gordos com todo o café e docinhos que os moradores vão oferecendo.

O capitão Ronen Fischer, vice-comandante de um esquadrão de uma unidade de infantaria da reserva, é o responsável pela segurança, o que significa que é trabalho dele garantir que ninguém aqui seja baleado ou levado por militantes de Gaza surgindo de túneis.

Ele admite que não há muito o que ele ou seus homens possam fazer em relação aos morteiros ou ao lançamento de foguetes.

— Você tem uns dez segundos —explica Fischer. — Então, não há tempo suficiente para derrubar as rajadas recebidas somente com o Domo de Ferro (sistema de defesa aérea israelense patrocinada pelos EUA). Basicamente, você corre.

Metade dos moradores da cidade se mudaram, mas a metade que permaneceu são responsabilidade de Fischer. Há um monte de avôs e avós.

Ele leva a sério. Pesa sobre ele, você pode dizer:

— Nosso trabalho é proteger a vida deste lugar — diz Fischer.

Marido de 35 anos de idade, pai de um bebê, com outro a caminho, que vive a 80 quilômetros ao norte, em um apartamento muito caro, Fischer fala três ou quatro idiomas, tem nível superior e é estressado. Viaja para viver, trabalhando como gerente de vendas de uma empresa que vende GPSs que ajudam a rastrear encomendas e entregas.

— Esta não é a minha roupa usual — conta ele, suando e oprimido pelo colete à prova de balas, capacete, rádios e uma arma automática.

Ele passeia com o repórter pelas redondezas e aumenta o ar-condicionado do carro o tanto quanto pode.

— Parece pacífico. E este é o problema — comenta Fischer.

Há profundos e estreitos leitos de rios, morros cobertos de mato, dunas de areia.

— Há túneis por todo o lugar — afirma.

Ele aponta para uma estufa, onde agrônomos locais desenvolvem estoques de sementes para os famosos tomates-cereja de Israel.

— É onde o trabalhador convidado foi morto — recorda Fischer.

Narakorn Kittiyangkul, 36, da Tailândia, escutou um foguete chegando e levantou-se para tirar uma fotografia. Foi atingido por uma rodada seguinte e sangrou por todo o caminho, até o hospital.

— Pessoas que vivem aqui dizem que você se acostuma com as sirenes e foguetes — conta Fischer. — Ninguém pode se acostumar com isso.

Surge a pergunta: você poderia viver aqui? Fischer fala sobre as moradias a preços acessíveis, as escolas para as quais as crianças podem ir caminhando, a vida bucólica, o clima amigável. E, então, responde:

— Não. Para ser honesto, não.

Fonte: O Globo

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