Queimadas e derrubadas de árvores vêm sendo responsáveis por 40% do desmatamento Santana do Cariri. Técnicas
de manejo ultrapassadas, como o uso de queimadas para o preparo do solo
na antecipação dos plantios, além da derrubada da vegetação nativa sem a
recomposição da mata através do reflorestamento, podem por fim a toda
vida vegetal e animal da Chapada do Araripe em pouco menos de 20 anos,
segundo avaliam técnicos e ambientalistas.
Os
danos ambientais são causados pelos próprios moradores de localidades
que foram surgindo, aos poucos, no sopé da Chapada. Com o apoio das
administrações municipais, os locais cresceram e causaram impactos à
natureza. Fotos: Roberto Crispim
Neste município, por
exemplo, o desmatamento já chega a 40% da área da Chapada e, conforme
afirmam os especialistas, este percentual poderá crescer desastrosamente
nos próximos anos, caso não sejam efetivados mecanismos para impedir a
realização das queimadas e das demais formas de desmatamento na região.
Os
danos são causados pelos próprios moradores de localidades que foram
surgindo, aos poucos, no sopé da Chapada. Com o apoio das administrações
municipais, esses locais cresceram, receberam certa infraestrutura e,
atualmente, buscam através da degradação ambiental suas
sustentabilidades.
Carvão
Os agricultores,
na maioria pequenos produtores, sem conhecimento técnico em relação a
novas metodologias de plantio, acabam destruindo áreas nativas para
criação de rebanhos bovinos e para extração de madeira que,
posteriormente, é transformada em carvão.
Vida animal e vegetais são ameaçados em meio a clareiras abertas, onde a floresta desaparece a cada momento pela ação do homem
“O
pequeno agricultor, na maioria dos casos, sequer tem conhecimento de
que está criando prejuízos à natureza. Há casos, no entanto, em que as
devastações acontecem propositalmente, sem que haja qualquer punição a
quem comete o crime ambiental”, informa Flávio Pontes, que trabalha como
técnico agrícola no município.
Na avaliação do técnico, as
causas do desmatamento podem ser explicadas devido à falta de políticas
públicas de fiscalização, preservação e, ainda, orientação aos
produtores, nos próprios municípios onde os casos de degradação
ambiental estão acontecendo. “A fiscalização é fundamental para que não
surjam novas áreas devastadas. No entanto, é preciso, também, criar
condições para que o produtor consiga realizar seu plantio de maneira a
não agredir a natureza. Daí a importância das gestões municipais criarem
estas condições”, ressalta Pontes.
O agricultor Leôncio Peixoto
reconhece que as práticas utilizadas no preparo do solo durante o
processo de plantação não trazem benefícios à Chapada. Ele, no entanto,
diz que a realização das queimadas, popularmente conhecidas por
“brocas”, ainda
é a maneira mais barata conhecida pelos agricultores para limpeza do solo.
“Eu
concordo que causa prejuízo à natureza. O negócio é que a broca sai
mais em conta. Eu também acho que prejudica mais quando a broca é muito
grande. Em pedaçinho de terra não causa muito prejuízo não. Era preciso
que quem broca numa área muito grande tivesse outro meio pra plantar sem
aumentar os gastos”, frisa.
Conforme afirma, se houvesse outro
meio de preparar a terra para o arado sem que os custos da produção
fossem ampliados, seria possível diminuir o desmatamento na região. “O
jeito que a gente conhece é esse. Eu acho que seria importante se os
agricultores pudessem conhecer outras formas de plantar. Se tiver, reduz
as brocas pela metade, eu acho”, diz.
Derrubada
As
queimadas não são o único problema na Chapada do Araripe quando o
assunto é devastação ambiental. O aproveitamento da floresta para fins
de subsistência tem ido mais além. Na região de Dom Leme, aonde a
produção de abacaxi vem crescendo nos últimos dois anos, a derrubada de
árvores nativas para produção de carvão vegetal vem gerando preocupação
junto aos ambientalistas da região.
Plantas como jequiti,
jequitibá, jatobá, cipó uva, dentre outras, estão sendo dizimadas,
afirmam os ambientalistas. “Há casos em que algumas espécies já não são
localizadas com tanta facilidade”, diz Flávio Pontes.
Roberto CrispimColaborador
Soluções
“Se não houver políticas para a Chapada do Araripe, vegetais e animais desaparecerão em cerca de 20 anos”
Flávio PontesTécnico agrícola
“O trabalho tem que ser feito em duas frentes. Fiscalização e educação ambiental. Assim a questão será resolvida”
Indalécio Freitas
Geólogo
Fonte: Diário do Nordeste
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